O cursinho foi reprovado Publicado em 06.02.2010
Agora que os resultados do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) viram passaporte carimbado para o ingresso em pelo menos 51 universidades públicas do País, os donos da indústria de escolas de ensino privado se perguntam com será possível sobreviver a partir do evento quando os alunos treinados em suas salas de aulas não conseguiram as melhores colocações das universidades de seus Estados. E o mais grave: a maioria nem sequer conseguiu vaga.Não foi apenas o sistema de acesso à universidade pública que mudou. Isso se deu no começo do ano com a elevação da importância do Enem pelo governo Lula. O que foi para o espaço esta semana foi o modelo de negócios em que ancora a indústria cujo faturamento é estimado em R$ 45 bilhões em 2008 e que simplesmente não podem mais garantir aos alunos de seus Estados a perspectiva de uma aprovação no topo da lista. Na verdade, eles já não podem mais nem oferecer a perspectiva de aprovação.A pergunta é dramática para as empresas de ensino pois, a partir desta segunda-feira, milhares de país e alunos vão acordar se perguntando se vale apenas investir tanto dinheiro e esforço se a prova do Enem pode classificar um aluno de um outro Estado. E o que a escola vai dizer ao seu freguês diante de resultados tão pífios se comparados com os do ano passado. Tem mais: como ficará a moral dos alunos da rede pública que, nos últimos anos, chegavam às universidades públicas graças ao reforço gratuito dadas por professores cuja motivação era provar que o aluno da escola pública ainda podia sonhar com um diploma. E sem ter que recorrer às cotas.» Escolas reconhecem desafioO diretor do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de Pernambuco, José Ricardo Diniz, reconhece que as escolas estão diante de um desafio e terão que reavaliar seu planejamento e estratégia de negócios quando o ano letivo já começou. Ele admite que os resultados obtidos vão suscitar uma série de debates porque o Enem tornou a disputa nacional. Ele adverte para os reflexos que o modelo terá nas universidades criadas no governo Lula, cujo foco era gerar novos pólos universitários no interior do País.» RegionaisA questão das regionais é, certamente, a que mais provoca dúvidas. Instituições como a Univasf já não asseguram que os alunos residentes na região terão a chance de cursar uma universidade pública. Ou qual é o compromisso que um aluno emigrante terá com a região.» VocaçõesO governo Lula criou 13 novas universidades, cujo foco era abrir oportunidades e descentralizar a graduação, além de formar alunos em cursos com as vocações da região. O Enem mostrou alunos migrando para campus em cidades que nunca ouviram falar. » Resultado ruimNo caixa das escolas privadas os resultados do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) podem provocar um efeito devastador. Instituições que criaram suas marcas e montaram estruturas educacionais em função dos resultados nos exames das universidades locais já sabem que a safra 2010 não foi tão boa.» CompetiçãoO negócio terá que ser revisto. O aluno sabe que não disputa mais na cidade. Isso significa disputar não com três, mas com três mil. Na UFPE, pela primeira vez entre os 10 melhores, não tem um aluno de Medicina. O que dizer aos pais que investiram pesado para levar o filho a uma federal do Estado?» Cotas reduzem chancesO sistema deve provocar mudanças de abordagem, também, em relação às cotas. Além de disputar a vaga nacionalmente, o aluno de escola privada está vendo que só poderá disputar metade das vagas federais.» Competir com rede públicaNa prática, isso quer dizer que a diferença entre as notas poderá tornar a vaga inacessível. Além disso, as cotas poderão levar para universidades alunos da rede pública de outro Estados, desestimulando os alunos locais.» FaturamentoO negócio cursinho virou um negócio bilionário, que evoluiu para escolas de segundo grau e universidades particulares. Os dados disponíveis revelam que ele é estimado em R$ 45 bilhões/ano. Mas o foco e toda a estratégia de marketing é para a competição no mercado local.» ConcentraçãoO novo cenário pode levar as grandes empresas a ter abordagens nacionais para competir nacionalmente. Mega redes com o discurso de aprovação em todos os Estados. E nesse caso, as empresas de Estados menores terão menos chances de aprovar seus alunos.
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