terça-feira, 31 de janeiro de 2012

SOCIOLOGIA: UMA NOVA CIÊNCIA.


A Sociologia, através de seus métodos de investigação científica, procura compreender e explicar as estruturas da sociedade, criando conceitos e teorias a fim de manter ou alterar as relações de poder nela existentes.

O século XVIII pode ser considerado um período de grande importância para a história do pensamento ocidental e para o início da Sociologia. A sociedade vivia uma era de mudanças de impacto em sua conjuntura política, econômica e cultural, que trazia novas situações e também novos problemas. Consequentemente, esse contexto dinâmico e confuso contribui para eclodirem duas grandes revoluções – a Revolução Industrial, na Inglaterra e a Revolução Francesa.

A Revolução Industrial é muitas vezes analisada de forma superficial como a simples introdução da máquina a vapor nas fábricas e manufaturas e o aperfeiçoamento das técnicas produtivas. Existe, porém, outra faceta da realidade – a Revolução Industrial significou o triunfo da indústria capitalista e da classe minoritária detentora dos meios de produção e do capital. Grandes massas de trabalhadores foram submetidas ao que impunha o sistema – novas formas de relação de trabalho, longas e penosas jornadas nas fábricas, salários de subsistência – a fim de satisfazer os interesses econômicos dos empresários.

Além disso, a vida nas cidades industriais também estava mudando – o intenso êxodo rural culminou na explosão demográfica e na falta de infra-estrutura capaz de comportar os excedentes populacionais. Miséria, epidemias, suicídios, aumento da prostituição e da criminalidade eram retratos da situação da época.

Um dos fatos de maior relevância foi o surgimento do proletariado, classe trabalhadora com importante papel histórico na sociedade capitalista.

Os proletários sentiam-se explorados, e muitas vezes, sua revolta se refletia na destruição das máquinas e equipamentos. Gradativamente, eles vão se organizando e formando sindicatos com o objetivo de se defender dos proprietários dos meios de produção e do próprio sistema capitalista vigente. Ao protestar e ao buscar mudanças, a classe operária se inclinava ideologicamente ao socialismo.

A introdução de novas formas de organizar a vida social e a profundidade das transformações, de certa forma, colocou a sociedade em evidência. Em decorrência disso, determinados pensadores passaram a considerá-la um objeto que deveria ser investigado e analisado com metodologia científica adequada.

Pensadores como Owen, William Thompson, Jeremy Bentham podiam ter opiniões diferentes em relação a alguns aspectos da Revolução Industrial, mas eram unânimes em afirmar que ela estava criando novos fenômenos, dignos de serem estudados. A Sociologia, então, foi se formando e se consolidando como se fosse uma resposta intelectual às novas condições de existência – a situação do proletariado, a estrutura das cidades industriais, os avanços tecnológicos, a organização do trabalho nas fábricas – originadas pela Revolução Industrial.

Principalmente no século XVII, a tendência sobrenatural e dogmática de se explicar os acontecimentos foi sendo naturalmente substituída por uma visão racionalista de mundo. Para o racionalista Francis Bacon (1561-1626), a teologia deixaria de ser a forma norteadora do pensamento para dar lugar ao novo método científico de conhecimento baseado na observação e na experimentação sistemática e objetiva dos fatos. Segundo ele, dessa maneira seria também possível descobrir e formulas leis gerais sobre a sociedade.

Já, no século XVIII, foi o pensamento social que evoluiu e fez novas descobertas. Segundo Vico (1668-1744), a sociedade podia ser compreendida, pois, ao contrário da natureza, seria o próprio homem o agente produtor da história. Mais tarde, essa postura intelectual seria amadurecida por Hegel e Marx.

Uma das correntes mais importantes desse mesmo século foi o Iluminismo, originado na França. Os pensadores iluministas tinham como proposta procurar transformar não apenas as antigas formas de conhecimento, mas a própria sociedade. Criticavam as características do feudalismo e os privilégios de sua classe dominante em defesa dos interesses burgueses.

Estudando as instituições da época, os iluministas procuraram demonstrar que elas eram injustas e irracionais e , segundo eles, por constituírem um obstáculo à liberdade do indivíduo, deveriam ser eliminadas.

Paralelamente, o homem comum também estava deixando de se submeter cegamente às instituições sociais e às normas existentes. Elas não eram mais vistas como inacessíveis e imutáveis, mas sim como fenômenos passíveis de serem conhecidos e transformados, afinal, são produtos da atividade humana. Na verdade, os tempos estavam mudando e a crescente racionalização da vida social iria contribuir para a constituição de um estudo científico sobre a sociedade.

A Revolução Francesa também foi uma circunstância que agilizou o processo de formação da Sociologia. Ao final do século XVIII, a monarquia absolutista da França estava assegurando inúmeros privilégios à minoritária classe dominante, enquanto deixava à margem de assistência uma população de 23 milhões de pessoas. Além disso, o arcaico sistema vigente impedia a constituição da livre empresa, a exploração eficiente da terra e abafava as iniciativas da burguesia. Obviamente, a situação era contraditória e não iria se sustentar por muito tempo.

Enfim, em 1789, com a mobilização das massas de trabalhadores pobres, a burguesia tomou o poder. O seu objetivo, na realidade, não girava apenas em torno da mudança da estrutura do Estado. Havia o claro desejo de abolir radicalmente a antiga forma de sociedade, suas instituições e seus costumes, promovendo e inovando aspectos da economia, da política, da religião e da vida cultural. Os velhos privilégios de classe foram destruídos e o empresariado passou a ser incentivado e apoiado.

Diante do profundo impacto que a Revolução Francesa causou, vários pensadores franceses da época – como Saint-Simon, Comte e Le Play – passaram a procurar soluções para o estado de desorganização em que se encontrava a nova ordem social. Todavia, para se chegar a uma estabilização dessa nova ordem, seria preciso, segundo eles, conhecer as leis que regem os fatos sociais e, assim, instituir uma ciência da sociedade.

Ao início do século XIX, o capitalismo emergente desencadeou o processo de industrialização na França, especialmente no setor têxtil. Determinadas situações sociais vividas pela Inglaterra no período de sua Revolução Industrial se repetiram na sociedade francesa.

Na terceira década desse mesmo século, houve a intensificação das crises econômicas e das divergências entre as classes sociais. Os trabalhadores franceses passaram a contestar o sistema capitalista, mas foram violentamente reprimidos pela burguesia, a qual acreditava que seria muito difícil criar uma ordem social estável e organizada.

Percebe-se, portanto, que a Sociologia se formou a partir de um contexto histórico-social complexo e bipolarizado. Primeiramente, ela assumiu o papel intelectual de repensar o problema da ordem social, enfatizando a necessidade da existência de instituição como a autoridade, a família, a hierarquia a destacando a importância teórica delas para o estudo da sociedade.

Segundo Le Play (1806-1882), não seria o indivíduo isolado o elemento fundamental para a compreensão da sociedade, mas sim a unidade familiar. Estudou diversas famílias de trabalhadores sob a industrialização e pôde observar que elas estavam mais instáveis do que anteriormente. Le Play acreditava que se os respectivos papéis tradicionais do homem e da mulher dentro da família fossem resgatados, as famílias e a própria sociedade poderiam adquirir mais equilíbrio.

Os antagonismos de classe existentes na sociedade capitalista são uma característica muito forte desse sistema e, por isso, não há uma única tendência do pensamento sociológico. O que existe é uma multiplicidade de visões sociológicas a respeito da sociedade, do objeto de estudo e dos métodos de investigação dessa disciplina. Essas visões deram origem às diferentes tradições sociológicas ou distintas sociologias.

Alguns sociólogos encararam o capitalismo com otimismo, identificando os valores e os interesses da elite como representativos do conjunto da sociedade. Partindo da percepção desses estudiosos, o funcionamento eficiente das instituições políticas e econômicas é um fenômeno essencial e as lutas de classe não passam de acontecimentos transitórios. Essa tradição sociológica que se colocou a favor da ordem instituída pelo capitalismo teve como base o pensamento conservador.

Os conservadores ou profetas do passado – como por exemplo, Edmund Burke (1729-1797), Joseph de Maistre (1754-1821) e Louis de Bonald (1754-1840) – cultivavam o pensamento medieval. Por um lado, admiravam a estabilidade, a hierarquia social e as instituições religiosas e aristocráticas do feudalismo e, por outro, combatiam com fervor as idéias iluministas que teriam desencadeado, segundo eles, o trágico e nefasto acontecimento do final do século XVIII – a Revolução Francesa.

Aos conservadores não interessava defender o capitalismo que se acentuava cada vez mais. De maneira pessimista, enxergavam a sociedade moderna em decadência, não consideravam nenhum progresso no urbanismo, na industrialização, na tecnologia e no igualitarismo. A sociedade lhes parecia mergulhada no caos, na desorganização e na anarquia. Afirmavam que para haver ordem e coesão social, seria necessário a existência de instituições fortes, tradição e valores morais.

É entre os sociólogos positivistas – Saint-Simon, Auguste Comte, Émile Durkheim – que as idéias conservadoras exerceram grande influência. Apesar de admirarem a linha de pensamento conservador, eles acreditavam que devido às novas circunstâncias históricas, seria impossível restaurar as instituições medievais; não seria adaptável.

Pode-se dizer que a oficialização da Sociologia foi uma criação do positivismo. A Sociologia de inspiração positivista visa a criar um objeto autônomo – o social – e a instaurar uma relação de independência entre os fenômenos sociais e econômicos.

Saint-Simon (1760-1825) possuía uma faceta progressista, posteriormente incorporada ao pensamento socialista, porém neste trabalho será dada maior ênfase ao seu lado positivista. Esse pensador acreditava que a existência de uma ciência da sociedade seria vital para a restauração da ordem na sociedade francesa pós-revolucionária. Assim, a nova ciência deveria descobrir as leis do progresso e do desenvolvimento social.

De acordo com sua visão otimista em relação à industrialização, Saint-Simon considerava que ela traria progresso econômico, segurança para os homens e reduziria consideravelmente os conflitos sociais. Como medida de apoio, o pensamento social deveria orientar a indústria e a produção. Ele admitia, porém, a existência de conflitos entre dominantes e dominados e devido a isso, sustentava a idéia de que os industriais e os cientistas deveriam procurar melhorar as condições de vida dos trabalhadores. Caberia, também, à ciência da sociedade descobrir novas normas capazes de guiar a conduta da classe trabalhadora, refreando seus ímpetos revolucionários.

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