segunda-feira, 28 de março de 2011

INVASÕES HOLANDESAS - ANTECEDENTES


O açúcar. Há muito conhecido pelos árabes, começou a ser divulgado na Europa a partir do século XII. Em Portugal, a cana foi cultivada no Algarves e na região de Coimbra desde o século XIV. Daí, passou para a ilha da Madeira, em meados do século seguinte.
Considerado uma especiaria, o consumo do açúcar ficou por muito tempo confinado as cortes e aos nobres. Após 1500, tornou-se um produto de luxo, ainda raro, mas utilizado de maneira cada vez mais intensa e variada. Somente no século XVIII, porém, como resultado da expansão da produção e do comércio, alcançou um público mais vasto, passando a adoçar o chá, o café e o chocolate, que se vulgarizavam.
Além de adoçante, o açúcar podia ser empregado como tempero (a pitada que ainda hoje se adiciona para cortar o sal), como conservante (frutas cristalizadas, por exemplo), como remédio (indicado pela farmacopéia árabe) e como decoração. Misturado a outras substâncias, o açúcar transforma-se em uma massa que pode ser modelada e pintada. Entre os séculos XV e XVII, e ainda mais tarde, constituía um símbolo de muito prestígio e riqueza recepcionar os convidados decorando a mesa com a escultura açucarada de um edifício ou outros objetos.
Em virtude do alto valor do açúcar no mercado internacional e dos conhecimentos adquiridos na produção do reino e da Madeira, a opção dos donatários pelo cultivo da cana em suas capitanias parece uma escolha quase inevitável. Principalmente porque, no litoral do Brasil, a presença de um solo argiloso escuro e pegajoso, rico em calcário, denominado massapê, prestava-se esplendidamente ao cultivo.
No entanto, a fabricação do açúcar tinha outras exigências. De um lado, a instalação do engenho demandava capitais consideráveis. De outro, trabalhadores especializados, capazes de dar o ponto de cozimento adequado e de refinar o produto. De preferência, instalavam-se os engenhos junto a um curso de água, que servia de força motriz para a moenda e de escoadouro para a produção (engenho real). Mas também os havia, e em maior número, movidos à tração animal (trapiches). Os colonos de alguma posse, destituídos porém de recursos para a montagem de um engenho, faziam cultivar a terra ao redor e moíam suas canas na instalação do senhor mais próximo, pelo que pagavam com uma parcela do produto final. Caso as terras pertencessem ao próprio senhor, esses lavradores tornavam-se canas obrigadas, isto é, só podiam moê-las naquele engenho.
Exceto pelos trabalhadores especializados, livres e assalariados, a mão-de-obra dos engenhos era predominantemente escrava. De início, recorreu-se aos indígenas, mas após 1570 os africanos tornaram-se cada vez mais comuns, uma vez que o número daqueles começou a declinar rapidamente e que estes adaptavam-se melhor a rotina do trabalho. Também não se pode esquecer que o comércio transatlântico de escravos converteu-se em um lucrativo negócio por essa época. Paralelamente ao trabalho no engenho, os escravos cuidavam igualmente de seu sustento, mantendo roças de alimentos, que podiam dispor como lhes convinha.
Por volta de 1545, o Brasil já dispunha de aproximadamente 25 engenhos espalhados de Pernambuco a São Vicente. Muitos, porém, não vingaram e, após a implantação do governo-geral, a produção tendeu a concentrar-se em Pernambuco e Bahia. Em 1570, essas duas capitanias reuniam 41 dos 60 engenhos do Brasil.
Porém, desde a plantação da cana, até a produção do açúcar, os colonos enfrentavam serias dificuldades, pois era preciso ter instalações e objetos específicos. Tudo isso além do capital. Nessa ‘fresta’ deixada pelos portugueses, os holandeses entraram com tecnologia européia para a refinação, na qual, com o tempo, se interessaram pela produção do açúcar, e praticamente se apropriaram do nordeste.

Características

Na falta de metais preciosos, a solução para obter alguma forma de lucro no Brasil colônia, seria promover a produção de um gênero agrícola que tivesse grande aceitação e elevado preço no mercado europeu. O açúcar atendia perfeitamente essas exigências.
Desde o século XIII os europeus já conheciam o açúcar. O problema é que era caro demais, pois era produzido no Extremo Oriente e chegava à Europa em pequenas quantidades. Entre os séculos XV e XVI espanhóis e portugueses resolveram plantar cana-de-açúcar. A Espanha utilizou suas terras americanas e Portugal suas ilhas africanas.
Em 1532, Martim Afonso de Sousa criou o primeiro engenho no Brasil, distribuindo terras para que os colonos plantassem cana. Em menos de 20 anos as plantações de cana se espalharam de tal forma pelo litoral, que por volta de 1550 o Brasil já era o maior produtor mundial de açúcar. No Nordeste, especialmente em Pernambuco, encontrou-se excelentes condições de clima e solo, instalando-se rapidamente dezenas de fazendas e engenhos.
No início, a empresa açucareira enfrentou sérios problemas. Plantar cana era uma coisa. Produzir açúcar, outra. Além do frete ou compra de embarcações para transporte dos colonos e dos equipamentos, o custo para implantação de um engenho era muito elevado, pois os equipamentos eram caríssimos para época, como fornalhas, moendas e vasilhas de cobre. Nesse sentido, os holandeses surgem como peça vital para viabilizar a empresa açucareira na colônia.
Desde o século XV, os holandeses já comercializavam o açúcar produzido pelos portugueses nas ilhas atlânticas. No Brasil, emprestavam o capital, exigindo em troca os direitos de refinação e distribuição no mercado europeu, bem como, o transporte de Portugal para Holanda. Recolhiam o produto em Lisboa, refinavam e distribuíam na Europa, principalmente na França, Inglaterra e regiões do Báltico. Ficavam com a maior parte da renda gerada pela empresa açucareira brasileira, pois esta era uma época mercantilista, onde o acúmulo de capital estava bem mais na distribuição (comércio), do que na produção da mercadoria.
Ao rei de Portugal cabia uma parcela também significativa do capital gerado pelo açúcar, pois recolhia impostos dos produtores, comerciantes e transportadores do produto.
Durante os séculos XVI e XVII a empresa açucareira brasileira foi a maior do mundo ocidental. A contribuição dos holandeses para a expansão do mercado açucareiro foi um dos principais fatores para o êxito da colonização do Brasil. Destacando-se tanto no comércio, como nas finanças no velho mundo, os holandeses eram nessa época os únicos com organização comercial suficiente para criar um mercado de grandes proporções para um produto como o açúcar.

Processo Histórico e Desdobramentos

A invasão holandesa ao Nordeste Brasileiro se deu entre os anos de 1630 e 1654, com dois grandes períodos de guerras: 1630-1635 e 1645-1654 quando os portugueses finalmente reconquistaram o centro econômico de sua principal colônia.
A tomada do Nordeste Brasileiro pela WIC (Companhia Holandesa das Índias Ocidentais) se deu após diversos anos de estudos, onde grande parte da comunidade judaica local colaborou com os invasores, devido às perseguições sofridas junto aos católicos. Também foram utilizados alguns espiões nos barcos que para cá vieram, que registraram a geografia do local e levaram índios à Europa. Havia dois interesses fortemente ligados na decisão holandesa de dominar as colônias sul-americanas dos portugeses.
O primeiro deles era o fato da Holanda ter se tornado inimiga de Portugal após este ser vassalo da Espanha, o outro o financeiro propriamente falando, visto que a produção e o comércio de açúcar eram extremamente lucrativos e os holandeses já dominavam as transações comerciais deste produto.
Após a morte do infante D. Henrique em 1580, houve uma grave crise na linha de sucessão ao trono português, visto que o jovem Rei ainda não havia deixado herdeiros. Após muita discussão internacional e uma tentativa de golpe, finalmente o Rei de Espanha, Felipe II (Felipe I de Portugal) assume o trono fazendo com que Portugal se torne inimigo consequentemente da Holanda, por esta ser inimiga da Espanha.
A Holanda tinha diversos investimentos no Brasil com empréstimos a senhores de engenho e intensas ligações comerciais com a venda de açúcar e de pau-brasil. Em 1621 foi criada a Companhia das Índias Ocidentais, de capital aberto na Bolsa de Valores de Amsterdã, e nos mesmos moldes da já importante Companhia das Índias Orientais. Quem presidia a WIC (sigla em flamengo) era o Conselho dos XIX.
Primeiramente tentou-se conquistar a cidade de Salvador, capital administrativa da colônia portuguesa, porém com a derrota optou-se por Olinda e Recife, centros econômicos. Em 1630 uma frota composta de 56 navios, com 3780 tripulantes e 3500 soldados chega a Olinda. Rapidamente dominaram esta vila e pouco tempo depois a de Recife.
Matias de Albuquerque, governador português de Pernambuco à época, levantou acampamento em Arraial de Bom Jesus com a intenção de organizar a defesa. Tal centro de defesa foi importantíssimo quando em 1631 chega uma frota hispano-portuguesa de 23 navios para o contra-ataque. Em parte a tal contra-ofensiva foi triunfante, visto que os navios desembarcaram em Alagoas e seus efetivos conseguiram forçar os holandeses a abandonar e incendiar Olinda para defenderem somente Recife.
Porém, a política expansionista holandesa não seria freada ai, visto que no mesmo ano estes partiriam para tentar, sem sucesso, a conquista da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Tal conquista, porém, já estaria concretizada em 1635, quando o domínio holandês no Brasil, ou o "Brasil Holandês" já chega até o Rio Grande do Norte. Até junho do mesmo ano, excetuavam-se somente o Arraial de Bom Jeses e o Forte de Nazaré nesta conquista, porém neste mês caem estes dois últimos focos de resistência.

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