terça-feira, 20 de abril de 2010

Semana Importante


Semana com 4 dias de grande importância para a história.


Ontem 19/04 - Dia do Índio

Amanhã 21/04 - Morte de Tiradentes e aniversário de Brasília

Quinta 22/04 - Achamento do Brasil


Abaixo um texto sobre a ocupação portuguesas nas terras índigenas.



As Guerras dos Bárbaros ou A Guerra do Açu


A princípio o denominado Sertão do Açu compreendia toda ribeira do rio com este nome e a ribeira posteriormente chamada de Seridó, recorte espacial reputado como possuidor de grandes campos frescos e salubres, onde muito gado podia ser criado. Sua colonização começou no final da década de 1670 e início de 1680. Ocupavam originalmente essa região os nativos tapuias, na sua grande maioria pertencentes à nação dos janduís. Esta porção interior da Capitania do Rio Grande foi tocada inicialmente, pela empresa colonizadora, por vaqueiros que ali fabricavam currais e viviam em relativa paz com os primitivos habitantes.
Contudo, essa paz duraria muito pouco e está região seria palco das mais sangrentas batalhas e atrocidades cometidas ao longo das Guerras dos . Levantes isolados de grupos indígenas precederam o movimento que tomaria maiores dimensões e seria denominado na época como a Guerra do Açu.
Mesmo sendo difícil datar o início destas revoltas e levantes, é possível que os motivos da revolta remontam dos abusos de João Fernandes Vieira, Capitão-mor da Paraíba (1655–1657), quando este prendeu os dois filhos de Canindé, tido como "rei dos janduís".
As razões mais profundas podem ser encontradas na expulsão dos holandeses - fiéis aliados dos indígenas tapuias -, além do avanço da economia pastoril que promovia a ocupação das terras dos nativos, além do que, o sertão do Açu foi alvo da migração de pessoas vindas das demais províncias do Norte em fuga de um surto epidêmico de febre amarela. Diante desse panorama, os tapuias sentiram-se usurpados e resolveram reagir.
Por volta de 1661, cresceu a hostilidade dos tapuias, metendo medo no novo capitão-mor da Paraíba, Matias de Albuquerque Maranhão (1661–1663), o que escreveu imediatamente para a regente D. Luísa de Gusmão, avisando que os índios bárbaros haviam se rebelado causando grande receio à população branca do sertão. Por conseguinte, em 1662, a regente ordenou que fizesse guerra contra os janduís, antes que estes se fortalecessem.
Os conflitos com os tapuias se espalharam por todo sertão atingindo territórios dos atuais estados do Ceará, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba. No Rio Grande, região do Açu, os conflitos persistiram, uma vez que as nações tapuias estavam causando danos e dando cabo aos colonizadores e vaqueiros além de matar e comer o seu gado.
Não controlando a rebeldia dos nativos, por volta de 1687, os edis da vila de Natal, pediam ao governador de Pernambuco, João da Cunha, ajuda para combater os tapuias que, no sertão do Açu já tinham matado cerca de cem pessoas, além de destruírem tudo o que encontravam.
Em pouco tempo os tapuias fizeram-se senhores, novamente, de todo sertão ameaçando inclusive os colonos na ribeira do Ceará Mirim. Tal proximidade com a sede da Capitania colocava em perigo os moradores de Natal. Houve então a necessidade da vinda de socorro da Bahia. A solução encontrada pelo Governador Geral foi autorizar o envio de duas Companhias que partiram sob o comando do Coronel Antônio de Albuquerque Câmara.
No que tange ao Seridó, na ribeira do Acauã, chega em 1687 o coronel Antônio de Albuquerque da Câmara, que ali possuía uma sesmaria, para dar combate aos gentios, usando como base militar a casa-forte do Cuó, cujos alicerces ainda podem ser encontrados em Caicó.
No entanto, esta expedição resultou em um enorme fracasso, fazendo com que os moradores da Capitania do Rio Grande ficassem bastante abalados a ponto de ameaçarem "despejar a Capitania". Essa decisão dos moradores fez com que o capitão-mor do Rio Grande baixasse um edital para impedir o êxodo em massa, alertando a população dos possíveis danos que sofreriam se abandonasse a capitania.
Diante do caos, o Governo Geral pediu que o paulista Domingo Jorge Velho marchasse de Pernambuco com todas as forças que conseguisse mobilizar, pois cria que suas tropas, moldada no combate ao gentio, seria capaz de vencer os rebelados, um vez que eram bem organizadas, ao contrario das tropas pernambucanas reunidas por Albuquerque Câmara e Manuel de Abreu Soares.
No início de 1688, Matias da Cunha já havia escrito aos edis de São Paulo, alertando para o fato de que o Rio Grande se achava oprimido pelos bárbaros. Ele também escreveu à mesma Câmara afirmando que das fronteiras chegavam avisos de que as tropas não se atreviam a investir contra os índios nas suas aldeias, e que estes chegaram até mesmo a cercar os quartéis onde estavam Domingos Jorge Velho Antônio e Albuquerque Câmara, que pelejando quatro dias com os bárbaros, por falta de munições, tinham se retirado dos quartéis.
O acampamento do sertanista situava-se na ribeira do Piranhas, fronteira com a Paraíba. Combateu no Seridó sem, no entanto, participar da última batalha da guerra cujo palco foi o Acauã. Ali ficou sob o comando das tropas, um cabo de seu terço, que "derrotou o gentio (...) e trouxeram mil e tantos prisioneiros" . Neste combate teria sido preso o cacique Canindé, que em 1692 firmou um acordo de paz com os portugueses.
Segundo as informações do Capitão-mor do Rio Grande, Agostinho César de Andrade, em 1689 os bárbaros haviam se fracionado. Todavia, alguns janduís, chamados Panatis, resolveram continuar as hostilidades obstinadamente, enquanto outros negociaram as pazes.
Mesmo essa iniciativa não foi suficiente para os colonos, pois uma onda de pavor se espalhou entre aqueles que acreditavam que os tapuias tivessem pedido a paz para dela se aproveitar, preparando assim, uma ofensiva final.
Domingos Jorge Velho, continuou na peleja com os índios pelo menos até o final de 1689. Com efeito, em outubro, seu sargento-mor obtivera uma importante vitória sobre os bárbaros, que resulta na captura do principal janduí, Canindé.
A paz não foi uma conquista imediata. Alguns fatores conspiram a favor da instabilidade: negligência para com as tropas de Matias Cardoso; o atraso no pagamento dos soldos, que foi tratado apenas em 1693, deixando os soldados em desespero por causa da situação de desamparo que os desanimava. Corria-se desta forma o risco um motim desses soldados visto que já que a fazenda da capitania não dispunha mais de recursos para investir na guerra, sendo assim, os esforços de paz corriam sérios riscos.
Ainda em 1693, Matias Cardoso atacou os índios do Ceará, não alcançando muito êxito. Em 1695 estavam terminadas as atividades formais da Campanha dos paulistas.
Em 1694 João de Lencasto assumiu o Governo Geral na Bahia com o interesse de solucionar a Guerra dos Bárbaros. Em carta ao Capitão-mor do Rio Grande sugeriu para por fim às guerras que se procurasse a paz acima de tudo.
Na tentativa de arrefecer a rebelião dos tapuias fortaleceu-se a idéia de que era necessário o repovoamento co a ocupação perene das regiões fronteiriças. Para este feito as medidas foram tomadas. A determinação ordenava que em Açu, Jaguaribe e Piranhas se pudessem seis aldeias de índios. A importância dessa medida foi destacada por Lencastro de duas maneiras: de um lado a razão militar visto que essas aldeias amigas seriam importantes para a defesa das fronteiras; por outro lado o sistema econômico das lavouras açucareiras dependia do fluxo de animais de corte provindos desses sertões. Sendo assim, o cordão defensivo das aldeias, além do povoamento iria reconstruir a economia local e garantir a segurança.
Além dessa alternativa ganhava corpo outra que considerava a idéia de se chamar o terço Paulista para intervir já que tentar fazer as pazes com os tapuias era considerado um esforço de muito risco. Portanto, estavam postas na mesa duas saídas: a paz com os índios através do povoamento, ou a guerra continuada em bases militares.
A decisão tomada e aceita pelo rei em 10 de Março de 1695, foi de contratar o terço de paulistas, patrocinando-os e executando a lei de 1641 que possibilitava que esses "soldados" poderiam fazer os índios de cativos, no lucrativo comércio de escravos.
Os moradores do Rio Grande, associados à açucocracia de Pernambuco eram partidários de uma solução pacífica tendo como aliado o capitão-mor Bernardo Vieira de Melo, que achava que "só por meio da paz podia haver quietação". Na visão do capitão-mor, o melhor a fazer era um presídio na Ribeira do Açu, e os cordões de aldeias para povoarem as fronteiras. Sua iniciativa era contrária àquela articulada na Bahia, indicando que o levaria a uma colisão com o terço dos paulistas.
Os argumentos de Bernardo Vieira de Melo não surtiram efeitos para coroa, que já puseram em marcha a máquina de guerra paulista, comandada pelo meste-de-campo Manuel Alvares de Morais Navarro, que distribuiu patentes a ele e a todo o terço que fizeram parte deste levante. Navarro e sua gente partiram para Bahia de onde o terço saiu em direção a Paraíba. Após oito meses (10 de maio de 1699) juntaram-se a esse terço os capitães Manuel da Mata Coutinho e Manuel de Siqueira Rondon, acompanhados de setenta soldados.
As tensões permaneceram até que as pazes foram sendo tecidas pouco a pouco e o trabalho de sedentarização dos índios foi sendo orquestrado pela Coroa.

REFERÊNCIAS:

MACÊDO, M. História e espaço seridoenses entre os séculos XIX e XX. Mneme – Revista Virtual de Humanidades. CERES. Vol. 01, n.01. p.01-50. 2000.

PUNTONI, P. A Guerra do Açu. In: - A Guerra dos Bárbaros – povos indígenas e a colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720. S. Paulo, 1998.254p, Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP. (CAP. 04).

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A ilha da Páscoa

Por Rubem Alves


A Ilha de Páscoa está localizada no sul do Pacífico, em um local esquecido no meio do mar. Foi avistada por europeus em um domingo de Páscoa, em 1722. Ao contrário da maioria das ilhas daquela parte do mundo, o terreno não tinha grandes árvores e a grama era tão seca que, à distância, parecia areia. Os viajantes foram recebidos por uma comitiva de nativos em canoas frágeis e ao desembarcar ficaram surpreendidos com os grandes moais, gigantescas estátuas de pedra esculpidas na forma de rostos humanos, espalhadas pelo litoral, como se vigiassem o alto-mar.Ainda hoje a ilha é cercada por uma nuvem de mistério. A chave do mistério é revelada ao voltarmos à época da chegada dos primeiros polinésios, a cerca de 1400 anos. Vindos do oeste, os Rapanui encontraram um pequeno paraíso.Eram 166 quilômetros quadrados cobertos por uma densa floresta subtropical que crescia sobre o fértil solo de origem vulcânica. A fauna local permitia uma dieta muito rica para os moradores. Carne de golfinho, de foca e de 25 tipos de aves selvagens que eram assados com a lenha retirada da floresta. É o que mostram escavações arqueológicas em antigos sítios ocupados, graças a essa biodiversidade o número de habitantes aumentou bastante.Boa parte dos recursos locais era gasta na intensa produção e no transporte de estátuas. Para movê-las, dezenas de pessoas utilizavam cordas e uma espécie de trenó feito de palmeiras e arrastavam os moais por 14 quilômetros até o litoral. A partir de 1200, a produção entrou em um ritmo mais acelerado e que durou pelos 300 anos seguintes, sendo preciso cada vez mais madeira, cordas e alimentos. Por volta de 1400, a floresta já não existia e a última palmeira foi cortada, extinta com outras 21 espécies de plantas nativas. Assim, não havia mais madeira e cordas para o transporte de moais nem troncos resistentes para a construção de barcos para a pesca em alto-mar.Assim a pesca diminuiu. As colheitas também foram prejudicadas com o desmatamento e com o habitat devastado todas as espécies de aves foram extintas.Todos esses fatores causaram uma grave falta de alimentos e o número de habitantes foi reduzido a um décimo dos 20 mil que habitaram a ilha no seu auge. E sem comida, os Rapanui apelaram para o canibalismo. Em vez de ossos de pássaros ou de golfinhos, passou-se a encontrar ossos humanos nas escavações de moradias desse período. Muitos deles foram quebrados para se extrair o tutano.O canibalismo cometido pelos nativos serve como exemplo do que pode acontecer quando o meio ambiente é explorado até o limite e o seu equilíbrio é afetado: a civilização que depende de seus recursos é levada ao colapso. Ela se devora a si mesma, "canibalisticamente". E serve de lição para nossa geração que está vivendo as consequências do crescimento econômico, tal como aconteceu com os moradores da ilha de Páscoa. Eles viram a destruição da natureza que suas atividades estavam produzindo mas não tiveram a sabedoria de parar.Seremos nós construtores de moais? O crescimento econômico e o crescimento tecnológico não serão os fantásticos moais que estamos construindo?

Professor carrega policial ferido. O mundo bizarro de José Serra


Muito ainda se falará dessa foto de Clayton de Souza, da Agência Estado, por tudo que ela significa e dignifica, apesar do imenso paradoxo que encerra. A insolvência moral da política paulista gerou esse instantâneo estupendo, repleto de um simbolismo extremamente caro à natureza humana, cheio de amor e dor. Este professor que carrega o PM ferido é um quadro da arte absurda em que se transformou um governo sustentado artificialmente pela mídia e por coronéis do capital. É um mural multifacetado de significados, tudo resumido numa imagem inesquecível eternizada por um fotojornalista num momento solitário de glória. Ao desprezar o movimento grevista dos professores, ao debochar dos movimentos sociais e autorizar sua polícia a descer o cacete no corpo docente, José Serra conseguiu produzir, ao mesmo tempo, uma obra prima fotográfica, uma elegia à solidariedade humana e uma peça de campanha para Dilma Rousseff.Inesquecível, Serra, inesquecível.